Pra um dia, quem sabe…

Pra um dia, quem sabe...

Há muito tempo percebi que tenho um daqueles distúrbios de documentários do Discovery Channel, sabe? Algo relacionado a acumuladores. Pessoas que não conseguem jogar coisas fora. Se meu passado fosse um armazém, ele seria do tamanho de Júpiter, mais ou menos. Sei bem que o que passou é parte de mim e não uma prisão¹ e que nosso passado é quem molda nosso presente e que repito: o futuro não fugirá a regra, e que, de certa forma, não tenho um passado do qual fugir se for considerar tim-tim-por-tim-tim dos anos que se passaram, apesar de ter ciência que se minha bagagem fosse um pouco mais leve, com certeza eu conseguiria dar passos mais largos.

Nesse mês, pela quarta vez perdi todos meus arquivos do computador, no entanto, pela primeira vez, não fiquei puto da vida, ao menos, não o tempo inteiro, procurei me lembrar que só depois de perdermos tudo é que estamos livres para fazer qualquer coisa², então procurei me conter. Foram mais de 300 gigabytes perdidos, mas me senti um tanto aliviado em “perder” essas coisas, um peso a menos na consciência a cada “tenho que limpar meu desktop… mas hoje não”.

Quem leu ao menos meia dúzia de posts meus sabe que eu sou uma pessoa extremamente saudosista e nostálgica, porém, sem sentir de fato falta de dias passados. Contraditório, eu sei. Sinto falta de rodar as lojinhas de cds de Santo André procurando o álbum que tinha a Danger Drive do Hateen. Nunca encontrei o Dear Life, que só anos depois vim saber ser o EP o qual tinha essa música. Dentre as idas e vindas a essas lojinhas, esbarrei no Loved e levei, amor à primeira vista, por 23 reais.

Fico feliz ao lembrar de quem hoje converso no whatsapp ou no Facebook que lá nos meados de 2008 me mandava emoticons pelo MSN a cada conversa sem sentido, muitas vezes adotando o miguxês como língua oficial, coisa normal para aquela época e justificável pra quem tinha aquela idade e via o mundo de outra forma, e sim, isso é um elogio. Só fico triste em saber que desses amigos, pouquíssimos ainda mantenho contato. Você cresceu e tudo tá difícil demais. Pois não é diferente pra ninguém³. Inclusive, lembro até hoje de quem me mandou o convite pro Orkut, o vi esses dias e poxa vida, como envelhecemos hein!

Apesar de hoje ter acesso a zilhões de bandas novas, eu acho que nunca conheci tantas bandas como na época em que a fitinha K7 era aos poucos substituídas pelos CD queimados a muito custo em computadores mais lentos que a justiça de nosso país. Correr para pegar o último ônibus no terminal, num domingo a noite pra voltar pra casa sempre era um motivo justo, desde que fosse voltando de algum show no Catedral ou derivados, onde, diga-se de passagem, consegui muitíssimas amizades e perdi um terço delas que machucaram milhões de vezes mais do que as skatadas nas canelas finas em sábados de madrugada no estacionamento do finado Compre Bem. Não tinhamos manobras boas, mas pretensão de tê-las também nunca tivemos, então tudo bem, assim como a preocupação de um futuro rico e promissor, como a consequência de não o termos – pro nosso bem: ainda bem!

¹ Trecho da música Duna da banda Fullheart
² Trecho do filme Clube da Luta, de David Fincher
³ Trecho da música Não é Como um Sonho da banda Voiced

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